Imaginário e realidade: como é obtido?

12 de janeiro de 2014

O texto ficcional é construído a partir de elementos da realidade aliados a elementos imaginários. Segundo o dicionário Caudas Aulete (2009), a realidade é a “qualidade ou estado do que é real ou verdadeiro”, enquanto que o imaginário é “tudo aquilo que pertence ao mundo da imaginação”.
A partir dos conceitos de realidade e imaginário podemos afirmar que o imaginário e a realidade, dentro de um texto literário, estão intrinsecamente ligados, pois a ficção e a concepção de real de cada indivíduo são formadas a partir do imaginário.

A ficção é também uma configuração do imaginário na medida em que, em geral, ela sempre se revela como tal. Ela provém do ato de ultrapasse das fronteiras existentes entre o imaginário e o real. (...) ela adquire predicados de realidade, enquanto, pela elucidação de seu caráter de ficção, guarda os predicados do imaginário. Nela, o real e o imaginário se entrelaçam de tal modo que se estabelecem as condições para a imprescindibilidade constante da interpretação.(ISER, 1983, p.379)

Ao escrever, o autor seleciona elementos da realidade para utilizar em seu texto ficcional. O leitor, por sua vez, vai perceber os elementos da realidade contidos no texto ficcional, bem como os elementos fictícios. Ambos os elementos alteram a visão de mundo do leitor, assim atua o imaginário. A partir destes conceitos, podemos conceituar a ficção como a construção e a transformação da realidade. A literatura é produzida mediante a fusão entre o fictício e o imaginário.
Para Iser, a partir da atuação do imaginário surge um terceiro elemento que ele chama de combinação. Da relação entre imaginário e realidade surgem “relacionamentos intratextuais” que é o resultado do posicionamento do leitor entre os elementos reais e os imaginários contidos no texto. A leitura promove ao leitor o acesso a dois mundos: o real e o imaginário, deste acesso o leitor cria o mundo empírico.
Este terceiro elemento surge não somente da concepção do leitor sobre o real e o imaginário, surge também de elementos contidos no próprio texto, elementos implícitos. Para Iser, a ficção é a “configuração apta para o uso do imaginário”, ou seja, o imaginário não existe como elemento isolado da ficção, ele atua dentro da ficção, não existindo, pois ficção sem este. Assim, o fictício depende do imaginário para que o texto possa causar o objetivo esperado pelo autor. Podemos concluir que todo texto ficcional contem elementos da realidade e do imaginário, embora muitas vezes estejam imperceptíveis.



AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. – [2.ed. ver. e atual.]. – Rio de Janeiro: Lexikon, 2009.
ISER, Wolfgang. Problemas da teoria da literatura atual: o imaginário e os conceitos-chaves da época. Trad. Luiz Costa Lima. In: COSTA LIMA, Luiz. Teoria da literatura e suas fontes. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. Vol II.

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